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Trabalho em rede é fundamental para promover mais negócios liderados por mulheres

Empreendedoras são as que menos recebem investimentos de VC, mas são as que mais pensam em negócios de impacto social

Em um dos meus artigos anteriores falei sobre a dificuldade que mulheres empreendedoras enfrentam ao levantar capital para os seus negócios. Para além da disparidade de gênero no mercado de trabalho corporativo e entre cargos de liderança, as startups fundadas por mulheres têm, historicamente, recebido menos investimento de Venture Capital. Globalmente, menos de 3% das empresas lideradas por mulheres recebem financiamento de VC, de acordo com a Harvard Business Review.

Na Nova Zelândia, um em cada três negócios é liderado por uma mulher. No entanto, apenas 18% do investimento anjo vai para elas. Mas esse é um cenário que está mudando. Assim como no Brasil, o país tem desenvolvido iniciativas que buscam reduzir essa desigualdade na distribuição de capital de investimento para startups. A ArcAngels é uma dessas iniciativas, com uma plataforma que ajuda a conectar investidores a negócios fundados por mulheres na Nova Zelândia. Na New Zealand Trade and Enterprise (NZTE), também contamos com o Women in Export, uma iniciativa onde abrimos espaço para apoiar mulheres no setor de exportação e aproximá-las para construir conexões e compartilhar experiências.

Essas e outras iniciativas reforçam a importância de se estabelecer um trabalho em rede para o empreendedorismo feminino. Desenvolver comunidades e redes de apoio para mulheres empreendedoras é importante especialmente quando estamos falando em contextos ainda predominantemente masculinos. Recentemente pude bater um papo com a Carol Gilberti, fundadora do projeto Mulheres Elétricas e CEO da Mubius WomenTech Ventures, uma venture builder baseada em Belo Horizonte e que tem como foco apoiar negócios de impacto social liderados por mulheres.

Observando o empreendedorismo no setor de tecnologia, em geral, Carol destaca que as mulheres são as mais ligadas aos negócios de impacto social. Outro movimento interessante que ela acompanha nos últimos anos é uma busca de executivas, muitas que já atingiram o auge de suas carreiras corporativas, se voltando para o mercado de investimento anjo. Elas estão à procura de startups fundadas por mulheres não só para investir, como oferecer mentorias de negócios, criando assim uma rede de conexões que é valiosa para outras que também querem empreender.

Encontrar negócios fundados por mulheres não é um desafio, diz Carol. Atualmente, a maior dificuldade ainda é abordar o tema. O que ela conta: “O mundo é ainda resistente à pauta das mulheres. As pessoas ainda se sentem desconfortáveis, mexem na cadeira, ‘ai, vai falar de feminino ou feminismo, qual é a diferença?’. A gente precisa de um letramento do mercado, porque hoje os líderes são, na maioria, 50+ e eles não estão preparados ainda”.

Também acredito que trazer mais homens para a conversa é fundamental para impulsionar a diversidade em diferentes contextos e níveis, seja ela nas organizações, seja nas startups ou no mercado de Venture Capital.

A importância de criar essas comunidades e redes ao redor de empreendedoras e outras minorias subrepresentadas é essencial para estimular outras mulheres a empreenderem. Lembrando que o empreendedorismo é também uma forma de distribuir novas oportunidades e investir em startups lideradas por mulheres é um caminho para diminuir a disparidade de riqueza entre os gêneros e apoiar negócios que buscam criar um mundo mais igualitário e sustentável.

Por: Jacqueline Nakamura

Jacqueline Nakamura é uma experiente profissional de Diplomacia comercial internacional com mais de 15 anos trabalhando para diferentes governos estrangeiros na América Latina. Depois de seis anos atuando no Departamento de Comércio Internacional do Reino Unido, liderando tanto as exportações comerciais quanto investimento estrangeiro, Jacqueline assumiu o cargo de Comissária de Negócios para a New Zealand Trade and Enterprise para o Brasil e Mercosur. Com experiência na indústria de tecnologia, trabalhando para empresas multinacionais de tecnologia e associações setoriais de comércio, ela lidera o plano de tecnologia da Nova Zelândia na América Latina. Sua formação acadêmica inclui bacharelado em Relações Internacionais pela PUC-SP e mestrado em economia empresarial pela FGV-SP com Recomendação de Honra.

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