Novo Ministério sinaliza ao mundo a importância dos povos indígenas para a representatividade e para a preservação do meio ambiente
Sônia Guajajara, importante líder do movimento pelos direitos indígenas, foi empossada como ministra dos povos indígenas nesta semana em Brasília. Ela, que foi eleita deputada federal no ano passado e nomeada pela revista Time como uma das pessoas mais influentes de 2022, agora lidera um ministério de importância histórica.
É a primeira vez que o Brasil conta com um ministério dedicado aos seus povos originários, com a pasta representando 307 grupos indígenas no País. É simbólico pelo seu ineditismo, mas também por outros tantos motivos.
Durante sua posse, Sônia destacou a importância do ministério para dar visibilidade aos povos subrepresentados e subnotificados. Há uma tendência, disse Sônia em seu discurso, de se romantizar ou afastar a pessoa indígena. No entanto, lembra ela, “vivemos no mesmo tempo e espaço que qualquer um de vocês”.
Destaco essa conquista, em particular, por nos dizer também muito sobre representatividade. Sabemos o quão importante é para as pessoas se verem representadas em papéis da sociedade, do mercado de trabalho, para se sentirem inspiradas a fazerem o mesmo. A diversidade também enriquece nossas perspectivas e lideranças.
Igualmente importante é o resgate que esse compromisso do Estado sinaliza com a recuperação da nossa ancestralidade e com o meio ambiente. Sônia, que também é líder ambiental, destaca a necessidade da demarcação das terras indígenas para conter o desmatamento no Brasil, como medida de combate à emergência climática global e proteção da biodiversidade.
Recentemente, durante a minha visita à Nova Zelândia, vivi uma das mais incríveis experiências da minha vida, ao passar dois dias em uma comunidade Māori, aprendendo seus valores, sua cultura, suas danças, dormindo e partilhando suas refeições e seus momentos de contemplação na floresta. O programa chamado Kia Kaha, que em Māori, significa “permaneça forte” é viabilizado pela NZTE (New Zealand Trade and Enterprise) a todos os novos funcionários da organização. Māori são os povos nativos da Nova Zelândia. A ancestralidade e a ligação com a terra é de extrema importância para os Māori que, assim como os povos indígenas no Brasil, se reconhecem como os guardiões da terra. Saber mais sobre as nossas origens também nos sensibiliza a cuidar melhor delas.
Nos últimos anos, o Governo da Nova Zelândia tem promovido planos e projetos para dar maior visibilidade ao trabalho e a inclusão dos Māori, desde empreendimentos locais à aceleração de startups lideradas por Māori.
Nada mais diz sobre inclusão do que a diversidade de se ocupar diferentes espaços, cargos, profissões e lideranças. Um ministério dedicado aos povos indígenas é também o início de uma reparação histórica à negação de direitos dos povos nativos e também traz consigo a promessa de impactos e resgates sociais que estão por vir.
Por: Jacqueline Nakamura
Jacqueline Nakamura é uma experiente profissional de Diplomacia comercial internacional com mais de 15 anos trabalhando para diferentes governos estrangeiros na América Latina. Depois de seis anos atuando no Departamento de Comércio Internacional do Reino Unido, liderando tanto as exportações comerciais quanto investimento estrangeiro, Jacqueline assumiu o cargo de Comissária de Negócios para a New Zealand Trade and Enterprise para o Brasil e Mercosur. Com experiência na indústria de tecnologia, trabalhando para empresas multinacionais de tecnologia e associações setoriais de comércio, ela lidera o plano de tecnologia da Nova Zelândia na América Latina. Sua formação acadêmica inclui bacharelado em Relações Internacionais pela PUC-SP e mestrado em economia empresarial pela FGV-SP com Recomendação de Honra.